30 de março de 2010

I'm Not Yours



Invento

Deponho
suponho e descrevo
a pulso

subindo pela fímbria
do despido

Porque nada é verdade
se eu invento
o avesso daquilo que é vestido


Maria Teresa Horta



23 de março de 2010

Past Mistake




Timidez


Basta-me um pequeno gesto,
feito de longe e de leve,
para que venhas comigo
e eu para sempre te leve...

- mas só esse eu não farei.

Uma palavra caída
das montanhas dos instantes
desmancha todos os mares
e une as terras mais distantes...

- palavra que não direi.

Para que tu me adivinhes,
entre os ventos taciturnos,
apago meus pensamentos,
ponho vestidos noturnos,

- que amargamente inventei.

E, enquanto não me descobres,
os mundos vão navegando
nos ares certos do tempo,
até não se sabe quando...

- e um dia me acabarei.



Cecília Meireles



8 de março de 2010

Daníell In The Sea



Um minuto de silêncio

I
Agora já é tarde. Quero silêncio. Queria silêncio. A distancia. As saudades. Já esqueceste?
II
O silêncio que deixaste instalado no canto do sofá, sufoca-me!
III
Esta pequena janela, por ti feita ternura, está agora inerte, silenciosa, embaciada,...
IV
Ai! Este silêncio onde agora me deito. Mortalha antecipada.
V
De dentes serrados passo as horas doridas de tanto silêncio.
VI
Quando o silêncio se instala de casa cheia, ou dormimos ou estamos mortos.
VII
Ao meu lado, ouço apenas o eco do meu próprio silêncio.
VIII
Esse maldito silêncio descansa aos meus pés como um cachorro velho.
IX
Silencio-me no turbilhão das minhas ideias
X
Hoje acordei sem silêncio no peito. Deixei queimar a pele no duche para me certificar que existia.
XI
Há o silêncio bom e o mau. O que vem após um suspiro de prazer ou um grito de raiva.
XII
E que tal uns tampões de cera nos ouvidos. É um barulho ensurdecedor!
XIII
Onde estás?... Não deixes que o silêncio se instale nos nós dos dedos, ao canto da boca, no fundo dos olhos, nos cabelos, no peito, no colo,...
XIV
O silêncio não existe. Ou melhor, existe antes e depois de nós!

Olga Roriz
23 de Setembro de 2004