31 de dezembro de 2010

Allegretto




Por que me falas nesse idioma? perguntei-lhe, sonhando. Em qualquer língua se entende essa palavra. Sem qualquer língua. O sangue sabe-o. Uma inteligência esparsa aprende esse convite inadiável. Búzios somos, moendo a vida inteira essa música incessante. Morte, morte. Levamos toda a vida morrendo em surdina. No trabalho, no amor, acordados, em sonho. A vida é a vigilância da morte, até que o seu fogo veemente nos consuma sem a consumir.


Cecília Meireles




Word Up (II)




Wave your hands in the air
Like you don’t care, glide by
The People as they start to look and stare.
Do you dance, do your dance quick
Mama, come on baby, tell me what’s

The Word, ah – word up,

Everybody say when you hear the call
You got to get it underway,
Word up, it’s the code word,
No matter where you say it,
You’ll know that you’ll be heard.



23 de dezembro de 2010

Si La Muerte




Si la muerte viene y pregunta por mi
haga el favor
de decirle que vuelva mañana
que todavia no he cancelado mis deudas

ni he terminado un poema
ni me he despedido de nadie
ni he ordenado mi ropa para el viaje
ni he llevado a su destino el encargo ajeno
ni he echado llave en mis gavetas
ni he dicho lo que debia decir a los amigos
ni he sentido el olor de la rosa que no ha nacido
ni he desenterrado mis raices
ni he escrito una carta pendiente
que si siquiera me he lavado las manos
ni he conocido un hijo
ni he empredido caminatas en paises desconocidos
ni conozco los siete velos del mar
ni la canción del marino

Si la muerte viniera
diga por favor que estoy entendido
y que me haga una espera

que no he dado a mi novia ni un beso de despedida
que no he repartido mi mano con las de mi familia
ni he desempolvado los libros
ni he silbado la canción preferida
ni me he reconciliado con los enemigos
digale que no he probado el suicidio
ni he visto libre a mi gente
digale si viene que vuelva mañana
que no es que le tema pero ni siquiera
he empezado a andar el camino




Veinte Años



¿Qué te importa que te ame,
si tú no me quieres ya?
El amor que ya ha pasado
no se debe recordar

Fui la ilusión de tu vida
un día lejano ya,
Hoy represento el pasado,
no me puedo conformar.

Si las cosas que uno quiere
se pudieran alcanzar,
tú me quisieras lo mismo
que veinte años atrás.

Con qué tristeza miramos
un amor que se nos va
Es un pedazo del alma
que se arranca sin piedad.





14 de dezembro de 2010

You Woke Me Up



Ando um pouco acima do chão
Nesse lugar onde costumam ser atingidos
Os pássaros
Um pouco acima dos pássaros
No lugar onde costumam inclinar-se
Para o voo

Tenho medo do peso morto
Porque é um ninho desfeito

Estou ligeiramente acima do que morre
Nessa encosta onde a palavra é como pão
Um pouco na palma da mão que divide
E não separo como o silêncio em meio do que escrevo

Ando ligeiro acima do que digo
E verto o sangue para dentro das palavras
Ando um pouco acima da transfusão do poema

Ando humildemente nos arredores do verbo
Passageiro num degrau invisível sobre a terra
Nesse lugar das árvores com fruto e das árvores
No meio de incêndios

Estou um pouco no interior do que arde
Apagando-me devagar e tendo sede
Porque ando acima da força a saciar quem vive
E esmago o coração para o que desce sobre mim

E bebe




Daniel Faria




5 de dezembro de 2010

Like a Hurricane




(…) Uma vez que alguma coisa de tão grave se passara comigo, parecia-me, ingenuamente, que eu deveria estar mudado. O espelho, porém, não me enviou senão o reflexo do meu rosto de sempre, um rosto inquieto, angustiado e pensativo. Passei a mão pelas faces menos para apagar o vestígio de um contacto do que para assegurar-me de que a imagem reflectida era bem a minha. O que torna a volúpia tão terrível é talvez o facto de que ela nos ensine que temos um corpo. Antes, ele não nos servia senão para viver; a partir de um determinado momento, sentimos que esse corpo tem sua existência particular, seus sonhos, sua vontade, e que, até à nossa morte, teremos de levar em conta a sua presença, ceder, transigir, ou lutar. (…)




Marguerite Yourcenar


26 de novembro de 2010

Man under the sea


Se alguma vez, nos salões de um palácio, sobre a erva de uma vala ou na solidão morna do vosso quarto, acordardes de uma embriaguez evanescente ou desaparecida, perguntai ao vento, a vaga, ao pássaro, ao relógio, a tudo o que foge, a tudo o que geme, a tudo o que rola, a tudo o que canta, a tudo o que fala, perguntai-lhes que horas são; e o vento a vaga, a estrela, o pássaro, o relógio, vos responderão: São horas de vos embriagardes! Para não serdes escravos martirizados do tempo, embriagai-vos; embriagai-vos sem cessar! Mas de quê? De vinho, de poesia ou de virtude, à vossa escolha. Mas embriagai-vos! Deslumbrai-vos!

Baudelaire

25 de novembro de 2010

The Wind



e um olhar perdido é tão difícil de encontrar
como o é congregar ventos dispersos pelo mar

Ruy Belo


 


11 de novembro de 2010

Why Won't You Stay





Mas hoje a moça não está para conversas, voltou amuada, vai me aplicar a injecção. O sonífero não tem mais efeito imediato, e já sei que o caminho do sono é como um corredor cheio de pensamentos. Ouço ruídos de gente, de vísceras, um sujeito entubado emite sons rascantes, talvez queira me dizer alguma coisa. O médico plantonista vai entrar apressado, tomar meu pulso, talvez me diga alguma coisa. Um padre chegará para a visita aos enfermos, falará baixinho palavras em latim, mas não deve ser comigo. Sirene na rua, telefone, passos, há sempre uma expectativa que me impede de cair no sono. É a mão que me sustém pelos raros cabelos. Até eu topar na porta de um pensamento oco, que me tragará para as profundezas, onde costumo sonhar em preto-e-branco.

Chico Buarque




9 de novembro de 2010

Up Jumped the Devil



O My O My

What a wretched life
I was born on the day
That my poor mother died

I was cut from her belly
With a stanley knife
My daddy did a jig
With the drunk midwife

Who's that younder all in flames
Dragging behind him a sack of chains
Who's that younder all in flames
Up jumped the Devil and he staked his claim

O poor heart
I was doomed from the start
Doomed to play
The villians part

I was the baddest Johnny
In the apple cart
My blood was blacker
Than the of a dead nun's heart

Who's that milling on the courthouse steps
Nailing my face to the hitching fence
Who's that milling on the courthouse steps

Up jumped the Devil and off he crept

O no O no



4 de novembro de 2010

All That Meat And No Potatoes



PAVANA PARA UMA BURGUESA DEFUNTA


A cabeça de vaca de minha tia mais velha
repousa em guerra lenta no cemitério maior.
Rói-lhe o bicho das contas a fímbria da orelha.
Rói-lhe o rato da raiva as narinas sem cor.

Repousa em paz. Raposa que na toca
fareja a galinhola e o fricassé.
Já não mija mas cheira
já não vive mas ousa
ser a santa que foi ser o estrume que é.

A cabeça de vaca de minha tia refoga
nas lágrimas burguesas da família enlatada
cozinha-lhe a memória um viuvo de toga
descasca-lhe a cebola uma filha frustrada.

A cabeça de vaca de minha tia meneia
o sim-sim o não-não dos outros semivivos
na família a razão de se morrer a meias
é a exalação dos suspiros cativos.

Se não fosse o desgosto se não fosse a gordura
o retrato na sala o buraco no ventre
se não fosse de força tinha feito a escritura
nem sequer houve tempo para o oiro dos dentes.

Minha tia mastiga minha tia castiga
na saleta do inferno as almas dos criados:
- não me limpaste o pó a campa tem urtigas
atrasaste o jantar dos condenados.

A cabeça de vaca de minha tia sem nome
coze no fogo brando do que é passar à história.
Dissolve-se na boca resolve-se na fome
do senhor que a devora em sua santa glória.

Ary dos Santos







12 de outubro de 2010

Why she swallows bullets and stones





(…)

a noite cai
semelhante a uma fadiga
que lhe baralhasse a memória;
um pouco de sangue
persiste do lado do poente.

repentinamente

ressoam tímbalos, como se a febre
os fizesse chocar
dentro do seu coração:
contra sua vontade,

um longo hábito levou-a de volta ao circo,
à hora onde todas as noites ela luta
contra o anjo da vertigem.

uma última vez
enche-se daquele cheiro de animal selvagem
que foi o da sua vida,
daquela música enorme e desafinada

como é a do amor.

(…)

Marguerite Yourcenar




7 de outubro de 2010

Everything In Its Right Place II




Yesterday I woke up sucking a lemon


There are two colours in my head
What, what is that you tried to say?
 

21 de setembro de 2010

11 de setembro de 2010

Baby



Ao Tempo



Encontrei-o assim ao dobrar a esquina, a cama, a curva do rosto, a ruga.

Esbarrei com ele assim uma noite entre as seis e as sete ao olhar o rio. Corria e reflectia muito leve, muito fino.

E sentia, sentia-o. Sentou-se ao meu lado e adormeceu no meu colo e ali ficou a embalar a embala-lo, devagarinho sem expirar sem inspirar, só olhos, só espanto, só inquietação.

O que era aquilo que ali passava e me agarrava e me detinha e me fazia pensar, saber...

O que era aquilo do TEMPO plantado a olhar para mim a comer-me pela pele, pelos ouvidos, pela boca.

Cresceu, cresceu e com ele a vontade de não o poder deixar passar sem o devorar todo, sorver todo, mergulhar...



Parti, assim, com ele no fundo dos sapatos a galgar a cidade a vida. Empurrei as portas, bati nos ombros, chamei-os a todos pelos nomes para virem comigo ver o fundo do meu sapato.

E assim viajei horas, dias, meses, feita cinderela e príncipe perfeito à procura dos pés, dos passos que se cruzassem com os meus e fizessem dos sapatos chapéus e dos chapéus pulseiras e das pulseiras chaves e das chaves cintos e dos cintos anéis e dos anéis dedos e dos dedos mãos, caras, peitos, umbigos, sexos, corações e dos corações fígados e dos fígados diários, diários sem dias sem horas sem minutos, só vontade, vontade de comigo descobrir o que és...



4 de Setembro 1997
Olga Roriz





8 de setembro de 2010

Why Won't You Stay




três poemas de amor
1

fosse apenas o desespero da ocasião da descarga de palavreado

perguntando se não será melhor abortar que ser estéril

as horas tão pesadas depois de te ires embora começarão sempre a arrastar-se cedo de mais as garras agarradas às cegas à cama da fome trazendo à tona os ossos os velhos amores órbitas vazias cheias em tempos de olhos como os teus sempre todas perguntando se será melhor cedo de mais do que nunca com a fome negra a manchar-lhes as caras a dizer outra vez nove dias sem nunca flutuar o amado nem nove meses nem nove vidas

2

a dizer outra vez se não me ensinares eu não aprendo a dizer outra vez que há uma última vez mesmo para as últimas vezes últimas vezes em que se implora últimas vezes em que se ama em que se sabe e não se sabe em que se finge uma última vez mesmo para as últimas vezes em que se diz se não me amares eu não serei amado se eu não te amar eu não amarei

palavras rançosas a revolver outra vez no coração amor amor amor pancada da velha batedeira pilando o soro inalterável das palavras

aterrorizado outra vez de não amar de amar e não seres tu de ser amado e não ser por ti de saber e não saber e fingir e fingir

eu e todos os outros que te hão-de amar se te amarem

3

a não ser que te amem

samuel beckett





27 de agosto de 2010

Red Right Hand




" - E aqui tendes, prosseguiu Belmonte, cuja rouquidão parecia ter diminuído com a cerveja -, aqui tendes o porquê da demora tão deplorada por Gerrit Van Herzog, razão essa, aliás, que sempre lhe escaparia, ainda que nos rebaixássemos a apresentar-lha. Depois de haver, segundo uns, homologado o universo, e segundo outros provado Deus, ou, pelo contrário, a sua inutilidade (tais zé-ninguéns devem ser rejeitados a par), eis-me de cu assente na terra nua e, pendurados por cima da minha cabeça, os meus silogismos perfeitos e as minhas incontroversas demonstrações, alto demais, contudo, para que eu, num golpe de rins, me consiga agarrar a eles. Executadas que foram as obras-primas da lógica e da álgebra, só me resta a mim apanhar com a mão um punhado desta terra sobre a qual me arrasto desde que fui feito... E da qual sou feito... E da qual sois feito. E da qual um simples montinho é mais complicado do que todas as minhas formulações. Pensei recorrer à filosofia, à química, a todas as ciências do interior das coisas. Mas, na primeira, deparei com abismos e ocultas contradições, tal como nos nossos corpos, sobre os quais, aliás, a fisiologia pouco sabe... Na segunda, voltava às generalizações e aos números... Se houvesse em qualquer parte um eixo a que, como um mastro de cocanha, pudéssemos trepar até ao que aquela gente supõe estar nas alturas... Mas não vejo outro eixo que não seja a coluna vertebral, a qual, como sabe, forma uma curva... Ou então descobrir um buraco pelo qual descer até não sei que antípodas divinos... E sempre era preciso que esse eixo, ou esse buraco, estivesse no centro, fosse um centro... Mas a partir do momento em que o mundo(aut Deus) é uma esfera cujo centro está em toda a parte, como afirmam os habilidosos (se bem que eu não veja por que é que ele não poderá ser de igual modo um poliedro irregular), bastaria cavar em qualquer sítio para se chegar a Deus, da mesma maneira que, à beira-mar, quando se cava areia se tem água... Escavar com os dedos, com os dentes, com o focinho, nessa profundidade que é Deus... (Aut Nihil, aut forte Ego.) Porque o segredo está em eu escavar em mim, já que neste momento eu estou no centro: eu e a minha tosse, essa bola de água e de lama que sobe e desce no meu peito e me abafa, eu e a diarreia destas entranhas estamos no centro... Este escarro que rola dentro de mim, estriado de sangue, estas tripas que me atormentam como nunca as de outrem me hão-de atormentar, e que no entanto são feitas também da mesma carne, são também o mesmo nada, o mesmo todo... E este medo de morrer, quando todavia sinto a vida pulsar com paixão até à ponta do dedo grande do pé... Quando basta uma baforada de ar fresco entrar pela janela para eu ficar, como um odre, inchado de alegria... Dá-me cá esse caderno... - ordenou ele a Natanael, apontando para um maço de papéis que estavam em cima da mesa."

"Um homem obscuro" Marguerite Yourcenar

16 de agosto de 2010

Cantar Alentejano




Chamava-se Catarina
O Alentejo a viu nascer
Serranas viram-na em vida
Baleizao a viu morrer


Ceifeiras na manha fria
Flores na campa lhe vao pôr
Ficou vermelha a campina
Do sangue que entao brotou


Acalma o furor campina
Que o teu pranto nao findou
Quem viu morrer Catarina
Nao perdoa a quem matou

Aquela pomba tao branca
Todos a querem p'ra si
O Alentejo queimado
Ninguém se lembra de ti


Aquela andorinha negra
Bate as asas p'ra voar
O Alentejo esquecido
Inda um dia hás-de cantar



15 de agosto de 2010

Caprice Nº.24




"Sons puros (Natanael achava que preferia, agora, os que, por assim dizer, não haviam encarnado na voz humana) que se elevavam, que recuavam depois para subiram ainda mais, que bailavam como labaredas, mas com deliciosa frescura. Entrelaçavam-se e beijavam-se como amantes, mas tal comparação era ainda demasiado carnal. Mais lembravam serpentes, só que não eram sinistros; ou clematites, ou volúbilis, só que as suas delicadas volutas não tinham um ar de fragilidade. E contudo eram frágeis; uma porta que, sem querer, batesse, bastaria ara os quebrar. À medida que prosseguiam as perguntas e as respostas entre violino e violoncelo, entre viola e cravo, ia-se-lhe impondo a imagem de bolas de oiro descendo degrau a degrau uma escadaria de mármore, ou de repuxos caindo nos tanques de algum jardim, como o senhor Van Herzog lhe dissera ter visto em Itália ou em França. Nunca na vida se atingiria tal grau de perfeição, mas essa serenidade sem igual mostrava-se todavia mutável e era feita de momentos e impulsos sucessivos; de novo se reformulavam aquelas uniões miraculosas; aguardava-se, coração a bater, o seu retorno, como se tratasse de uma alegria há longo tempo esperada; cada variação levava-nos, qual carícia, de um prazer a outro prazer insensivelmente diferente; a intensidade do som aumentava ou diminuía, ou mudava, na sua totalidade, como acontece com as colorações do céu. O próprio facto de tal felicidade se escoar através do tempo leva-nos a crer que também aí se não estava perante a pura perfeição, situada, como dizem que Deus está, numa outra esfera, mas tão-só perante uma série de miragens do ouvido, tal como existem, algures, as miragens da vista. Depois, a tosse de alguém quebrava essa grande paz, o que bastava para nos fazer lembrar que aquele milagre só podia acontecer num lugar privilegiado, cuidadosamente isento isento de ruídos. Lá fora, as carroças continuavam a chiar, um burro maltratado zurrava; os animais no açougue mugiam ou arquejavam na sua agonia; as crianças mal cuidadas e mal alimentadas berravam nos seus berços. Aqui e acolá, homens, como outrora o mestiço, morriam com uma praga nos lábios ensanguentados. Na mesa de mármore do hospital, pacientes gritavam. A mil léguas, possivelmente, a este e a oeste, troavam batalhas. Parecia escandaloso que esse imenso rugido de dor, que, se em qualquer momento viesse a entrar em nós, assim por inteiro, nos mataria, pudesse coexistir com aquele delgado fio de delícias."

"Um homem obscuro" Marguerite Yourcenar



30 de julho de 2010

Exit Music (For A Film)



Wake.. from your sleep
The drying of your tears
Today we escape, we escape

Pack.. and get dressed
Before your father hears us
Before all hell breaks loose

Breathe, keep breathing
Don't lose your nerve
Breathe, keep breathing
I can't do this alone



22 de julho de 2010

My Stomach Is The Most Violent Of All Of Italy (feat. Asia Argento)


Where are the songs of Spring? Ay, where are they?

Think not of them, thou hast thy music too
While the barred clouds bloom the soft dying day,
And touch the stubble-plains with rosy hue,

'Then in a wailful choir the small gnats mourn
Among the river sallows, borne aloft
Or sinking as the light wind lives or dies;

And full grown lambs loud bleat from hilly bourne:
Hedge-crickets sing; and now woth treble soft
The redbreast whistles from a garden croft;
And gathering swallows twitter in the skies.
John Keats

19 de julho de 2010

Bacana



Gosto de gente Bacana.

27 de junho de 2010

In Our Talons



And the warblers sing: deet-deet-deet-deet-deet-deet-deet-deet-deet-deet!
And the sparrows sing: deet-deet-deet-deet-deet-deet-deet-deet-deet-deet!
Through the wheels, through the wheels on the interstate,
And hear no refrain.

And no, youre not alone. No, my cousins, youre not alone.
Youre in our talons now, and were never letting go.
Youre in our headlights, frozen, and no, were not stopping.
You may not believe, but even we were scared at first.
It takes a lot of nerve to destroy this wondrous earth.
Were only human

22 de junho de 2010

Mstislav Rostropovich - Bach Cello Suites 1



XI

Toda a alegria quer a eternidade de todas as coisas, quer mal, quer fezes, quer inebriante meia-noite e quer sepulturas, quer o consolo das lágrimas, das sepulturas, quer o dourado crepúsculo...
Que não há de querer a alegria! É mais sedenta, mais cordial, mais terrível, mais secreta que toda a dor: quer-se a si mesma, morde-se a si mesma, agita-se nela a vontade da anilha; quer amor, quer ódio, nada na abundância, dá, arroja para longe de si, suplica que a aceitem, agradece a quem a recebe, quereria ser odiada; é tão rica que tem sede de dor, de inferno, de ódio, de vergonha, do mundo, porque este mundo, ah, já o conheceis.
Homens superiores, por vós suspira a alegria, a desenfreada, a bem-aventurada; suspira pela vossa malograda dor. Toda a alegria eterna suspira pelas coisas malogradas.
Pois toda a alegria se estima a si mesma; por isso quer também o sofrimento! Ó! felicidade! Ó! dor! Desfibra-te coração! Aprendei-o, homens superiores: a alegria quer a eternidade!
A alegria quer a eternidade de todas as coisas.
Quer profunda eternidade.

Friedrich Nietzsche




17 de junho de 2010

The Wuthering Heights




Last night, I was on the threshold of hell.
To-day, I am within sight of my heaven.
I have my eyes on it: hardly three feet to sever me!

11 de junho de 2010

Paradise Circus (Gui Boratto Remix)



Oh well the devil makes us sin
But we like it when we're spinning in his grip.



Live With Me



Times, Nothing's right, if you ain't here
I'll give all that I have, just to keep you near
I wrote you a letter, I tried to, make it clear
You just don't believe that i'm sincere
I've been thinking about you, baby.



Terry Callier - Ordinary Joe


And for my opening line
I'm not trying to indicate my state of mind.
I turn you on,
I tell you that I'm laughing just to keep from crying

And I've seen a sparrow get high
And waste his time in the sky
He thinks it's easy to fly
He's just a little bit freer than I





2 de junho de 2010

You Win




Fecharia os olhos sob os anéis dos astros
e entre os violinos e os fortes poços da noite,
descobriria a ardente ideia da minha vida.


Herberto Helder





23 de maio de 2010

Why I'm Bullshit



in you leather head band
with feathers - your so handsome
you can translate the sidewalk cracks
you can hear the wailing of the ghosts

all i know is I betrayed you
by not dragging hell to find you
but beautiful you're always there



Não encontro a Música perfeita.
Creio que o problema seja meu.

18 de maio de 2010

Love Will Tear Us Apart



When routine bites hard
and ambitions are low
And resentment rides high
but emotions won't grow
And we're changing our ways,
taking different roads

Love, love will tear us apart again
And love, love will tear us apart again



5 de maio de 2010

25 de abril de 2010

Catarina Eufémia




Açorda à Alentejana
do Livro: Cozinha Tradicional Portuguesa
Editorial Verbo

Ingredientes:
Para 4 pessoas

1 bom molho de coentros (ou um molho pequeno de poejos ou uma mistura das duas ervas
2 a 4 dentes de alho
1 colher de sopa bem cheia de sal grosso
4 colheres de sopa de azeite
1,5 litro de água a ferver
400 grs de pão caseiro (duro)
4 ovos

Confecção:

Pisam-se num almofariz, reduzindo-os a papa, os coentros (ou os poejos) com os dentes de alho, a que se retirou o grelo, e o sal grosso.
Deita-se esta papa na terrina ou numa tigela de meia cozinha, que neste caso fará ofícios de terrina.
Rega-se com o azeite e escalda-se com a água a ferver, onde previamente se escalfaram os ovos (de onde se retiraram).
Mexe-se a açorda com uma fatia de pão grande, com que se prova a sopa.
A esta sopa dá-se o nome de sopa «azeiteira» ou «sopa mestra».
Introduz-se então no caldo o pão, que foi ou não cortado em fatias ou em cubos com uma faca, ou partido à mão, conforme o gosto.
Depois, tapa-se ou não a açorda, pois uns gostam dela mole e outros apreciam as suas sopas duras.
Os ovos são colocados no prato ou sobre as sopas na terrina, também conforme o gosto.
*A açorda é, fora do Alentejo, o prato mais conhecido da culinária alentejana.
Vai à mesa do pobre e do rico e raro é o dia que não constitui o almoço do trabalhador rural.
Tem muitas variantes, mais influenciadas pela mudança de estações do que, como é regra em cozinha trdicionais, de terra para terra.
É sempre um caldo quente e transparente, aromatizado com coentros ou poejos, ou os dois, alhos pisados com sal grosso e condimentado com azeite.
Dão-lhe consistência fatias ou bocados de pão de trigo, de preferência caseiro e duro.
Acompanha-se geralmente com ovos escalfados, que também podem ser cozidos, e azeitonas.
Muitas vezes, na água utilizada já se cozeu uma posta de pescada ou de bacalhau.
Também pode ser acompanhada com sardinhas assadas ou fritas e, no Outono, é muitas vezes enriquecida com tiras finas de pimento verde, que se escaldam com a água ao mesmo tempo que as ervas, e acompanhada com figos maduros ou um cacho de uvas brancas de mesa.




10 de abril de 2010

Um tempo sem mentira




meu sonho tem boca
que o digam meus ossos
tem dois olhos sobre a nuca

e reza todos os dias
que em todas as horas
houve um tempo
sem mentira


30 de março de 2010

I'm Not Yours



Invento

Deponho
suponho e descrevo
a pulso

subindo pela fímbria
do despido

Porque nada é verdade
se eu invento
o avesso daquilo que é vestido


Maria Teresa Horta



23 de março de 2010

Past Mistake




Timidez


Basta-me um pequeno gesto,
feito de longe e de leve,
para que venhas comigo
e eu para sempre te leve...

- mas só esse eu não farei.

Uma palavra caída
das montanhas dos instantes
desmancha todos os mares
e une as terras mais distantes...

- palavra que não direi.

Para que tu me adivinhes,
entre os ventos taciturnos,
apago meus pensamentos,
ponho vestidos noturnos,

- que amargamente inventei.

E, enquanto não me descobres,
os mundos vão navegando
nos ares certos do tempo,
até não se sabe quando...

- e um dia me acabarei.



Cecília Meireles



8 de março de 2010

Daníell In The Sea



Um minuto de silêncio

I
Agora já é tarde. Quero silêncio. Queria silêncio. A distancia. As saudades. Já esqueceste?
II
O silêncio que deixaste instalado no canto do sofá, sufoca-me!
III
Esta pequena janela, por ti feita ternura, está agora inerte, silenciosa, embaciada,...
IV
Ai! Este silêncio onde agora me deito. Mortalha antecipada.
V
De dentes serrados passo as horas doridas de tanto silêncio.
VI
Quando o silêncio se instala de casa cheia, ou dormimos ou estamos mortos.
VII
Ao meu lado, ouço apenas o eco do meu próprio silêncio.
VIII
Esse maldito silêncio descansa aos meus pés como um cachorro velho.
IX
Silencio-me no turbilhão das minhas ideias
X
Hoje acordei sem silêncio no peito. Deixei queimar a pele no duche para me certificar que existia.
XI
Há o silêncio bom e o mau. O que vem após um suspiro de prazer ou um grito de raiva.
XII
E que tal uns tampões de cera nos ouvidos. É um barulho ensurdecedor!
XIII
Onde estás?... Não deixes que o silêncio se instale nos nós dos dedos, ao canto da boca, no fundo dos olhos, nos cabelos, no peito, no colo,...
XIV
O silêncio não existe. Ou melhor, existe antes e depois de nós!

Olga Roriz
23 de Setembro de 2004

19 de fevereiro de 2010

This Is The Day


You could've done anything - if you'd wanted
And all your friends and family think that you're lucky.
But the side of you they'll never see
Is when you're left alone with the memories
That hold your life together like
Glue


17 de fevereiro de 2010

Paradise Circus feat. Hope Sandoval



It's unfortunate that when we feel a storm
we can roll ourselves over when we're uncomfortable
oh well the devil makes us sin
but we like it when we're spinning in his grip.

Love is like a sin my love
For the one that feels it the most
Look at her with a smile like a flame
She will love you like a fly will never love you, again




16 de fevereiro de 2010

Feet of Courage




Tereza explicava tudo isto a Tomas e Tomas sabia que era verdade mas que, sob essa verdade, se escondia uma razão que explicava melhor a sua vontade de deixar Praga: é que, até aí, ela não fora feliz.
Vivera os dias mais belos da sua vida quando andara a fotografar soldados russos pelas ruas de Praga e se expusera a todos os perigos. Fora o único período em que a telenovela dos seus sonhos se interrompera e em que tinha tido noites serenas. Montados nos seus tanques, os russos tinham-lhe trazido a harmonia. Agora, que a festa acabara, voltava a ter medo das suas noites e queria fugir antes que regressassem. Descobrira que havia circunstâncias em que podia sentir-se forte e satisfeita e era na esperança de tornar a encontrá-las que queria ir-se embora para o estrangeiro.

Milan Kundera




2 de fevereiro de 2010

Zebra





Wilderness for miles, eyes so mild and wise
Oasis child, born and so wild
Don't I know you better than the rest
All deception, all deception from you

Any way you run, you run before us
Black and white horse arching among us



16 de janeiro de 2010

Water Here



Não sei como dizer-te que minha voz te procura e a atenção começa a florir, quando sucede a noite esplêndida e vasta. Não sei o que dizer, quando longamente teus pulsos se enchem de um brilho precioso e estremeces como um pensamento chegado.
Quando, iniciado o campo, o centeio imaturo ondula tocado pelo pressentir de um tempo distante, e na terra crescida os homens entoam a vindima - eu não sei como dizer-te que cem ideias, dentro de mim te procuram.
Quando as folhas da melancolia arrefecem com astros ao lado do espaço e o coração é uma semente inventada em seu escuro fundo e em seu turbilhão de um dia, tu arrebatas os caminhos da minha solidão como se toda a casa ardesse pousada na noite.

- E então não sei o que dizer junto à taça de pedra do teu tão jovem silêncio.

Quando as crianças acordam nas luas espantadas que às vezes se despenham no meio do tempo - não sei como dizer-te que a pureza, dentro de mim, te procura.
Durante a primavera inteira aprendo os trevos, a água sobrenatural, o leve e abstracto correr do espaço – e penso que vou dizer algo cheio de razão, mas quando a sombra cai da curva sôfrega dos meus lábios, sinto que me faltam um girassol, uma pedra, uma ave – qualquer coisa extraordinária.
Porque não sei como dizer-te sem milagres que dentro de mim é o sol, o fruto, a criança, a água, o deus, o leite, a mãe, que te procuram.

Herberto Helder




15 de janeiro de 2010

Hold Time



O nome parece a infância.
Quando na velhice é termos vindo
Sem pressa

Para dentro
Do nome se esvazia o corpo quando o corpo cai
É um fruto.

O nome é ainda
O modo como chamas.

O nome é a arma contra mim. O maior perigo.
Com os teus lábios podes destruir-me.



Daniel Faria



3 de janeiro de 2010

Coward



Estou num dia em que me pesa, como uma entrada no cárcere, a monotonia de tudo. A monotonia de tudo não é, porém, senão a monotonia de mim. Cada rosto, ainda que seja o de quem vimos ontem, é outro hoje, pois que hoje não é ontem. Cada dia é o dia que é, e nunca houve outro igual no mundo. Só em nossa alma está a identidade – a identidade sentida, embora falsa, consigo mesma – pela qual tudo se assemelha e se simplifica. O mundo é coisas destacadas e arestas diferentes; mas, se somos míopes, é uma névoa insuficiente e contínua.


O meu desejo é fugir. Fugir ao que conheço, fugir ao que é meu, fugir ao que amo. Desejo partir – não para as Índias impossíveis, ou para as grandes ilhas ao Sul de tudo, mas para o lugar qualquer – aldeia ou ermo – que tenha em si o não ser este lugar. Quero não ver mais estes rostos, estes hábitos e estes dias. Quero repousar, alheio, do meu fingimento orgânico. Quero sentir o sono chegar como vida, e não como repouso. Uma cabana à beira-mar, uma caverna, até, no socalco rugoso de uma serra, me pode dar isto. Infelizmente, só a minha vontade mo não pode dar.

A escravatura é a lei da vida, e não há outra lei, porque esta tem de cumprir-se, sem revolta possível nem refúgio que achar. Uns nascem escravos, outros tornam-se escravos, e a outros a escravidão é dada. O amor cobarde que todos temos à liberdade – que, se a tivéssemos, estranharíamos, por nova, repudiando-a – é o verdadeiro sinal do peso da nossa escravidão. Eu mesmo, que acabo de dizer que desejaria a cabana ou caverna onde estivesse livre da monotonia de tudo, que é a de mim, ousaria eu partir para essa cabana ou caverna, sabendo, por conhecimento, que, pois que a monotonia é de mim, a haveria sempre de ter comigo? Eu mesmo, que sufoco onde estou e porque estou, onde respiraria melhor se a doença é dos meus pulmões e não das coisas que me cercam? Eu mesmo, que anseio alto pelo sol puro e os campos livres, pelo mar visível e o horizonte inteiro, quem me diz que não estranharia a cama, ou a comida, ou não ter que descer os oito lances de escada até à rua, ou não entrar na tabacaria da esquina, ou não trocar os bons dias com o barbeiro ocioso?

Bernardo Soares