21 de setembro de 2010
11 de setembro de 2010
Baby
Ao Tempo
Encontrei-o assim ao dobrar a esquina, a cama, a curva do rosto, a ruga.
Esbarrei com ele assim uma noite entre as seis e as sete ao olhar o rio. Corria e reflectia muito leve, muito fino.
E sentia, sentia-o. Sentou-se ao meu lado e adormeceu no meu colo e ali ficou a embalar a embala-lo, devagarinho sem expirar sem inspirar, só olhos, só espanto, só inquietação.
O que era aquilo que ali passava e me agarrava e me detinha e me fazia pensar, saber...
O que era aquilo do TEMPO plantado a olhar para mim a comer-me pela pele, pelos ouvidos, pela boca.
Cresceu, cresceu e com ele a vontade de não o poder deixar passar sem o devorar todo, sorver todo, mergulhar...
Parti, assim, com ele no fundo dos sapatos a galgar a cidade a vida. Empurrei as portas, bati nos ombros, chamei-os a todos pelos nomes para virem comigo ver o fundo do meu sapato.
E assim viajei horas, dias, meses, feita cinderela e príncipe perfeito à procura dos pés, dos passos que se cruzassem com os meus e fizessem dos sapatos chapéus e dos chapéus pulseiras e das pulseiras chaves e das chaves cintos e dos cintos anéis e dos anéis dedos e dos dedos mãos, caras, peitos, umbigos, sexos, corações e dos corações fígados e dos fígados diários, diários sem dias sem horas sem minutos, só vontade, vontade de comigo descobrir o que és...
4 de Setembro 1997
Olga Roriz
8 de setembro de 2010
Why Won't You Stay
três poemas de amor
1
fosse apenas o desespero da ocasião da descarga de palavreado
perguntando se não será melhor abortar que ser estéril
as horas tão pesadas depois de te ires embora começarão sempre a arrastar-se cedo de mais as garras agarradas às cegas à cama da fome trazendo à tona os ossos os velhos amores órbitas vazias cheias em tempos de olhos como os teus sempre todas perguntando se será melhor cedo de mais do que nunca com a fome negra a manchar-lhes as caras a dizer outra vez nove dias sem nunca flutuar o amado nem nove meses nem nove vidas
2
a dizer outra vez se não me ensinares eu não aprendo a dizer outra vez que há uma última vez mesmo para as últimas vezes últimas vezes em que se implora últimas vezes em que se ama em que se sabe e não se sabe em que se finge uma última vez mesmo para as últimas vezes em que se diz se não me amares eu não serei amado se eu não te amar eu não amarei
palavras rançosas a revolver outra vez no coração amor amor amor pancada da velha batedeira pilando o soro inalterável das palavras
aterrorizado outra vez de não amar de amar e não seres tu de ser amado e não ser por ti de saber e não saber e fingir e fingir
eu e todos os outros que te hão-de amar se te amarem
3
a não ser que te amem
1
fosse apenas o desespero da ocasião da descarga de palavreado
perguntando se não será melhor abortar que ser estéril
as horas tão pesadas depois de te ires embora começarão sempre a arrastar-se cedo de mais as garras agarradas às cegas à cama da fome trazendo à tona os ossos os velhos amores órbitas vazias cheias em tempos de olhos como os teus sempre todas perguntando se será melhor cedo de mais do que nunca com a fome negra a manchar-lhes as caras a dizer outra vez nove dias sem nunca flutuar o amado nem nove meses nem nove vidas
2
a dizer outra vez se não me ensinares eu não aprendo a dizer outra vez que há uma última vez mesmo para as últimas vezes últimas vezes em que se implora últimas vezes em que se ama em que se sabe e não se sabe em que se finge uma última vez mesmo para as últimas vezes em que se diz se não me amares eu não serei amado se eu não te amar eu não amarei
palavras rançosas a revolver outra vez no coração amor amor amor pancada da velha batedeira pilando o soro inalterável das palavras
aterrorizado outra vez de não amar de amar e não seres tu de ser amado e não ser por ti de saber e não saber e fingir e fingir
eu e todos os outros que te hão-de amar se te amarem
3
a não ser que te amem
samuel beckett
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