Tereza explicava tudo isto a Tomas e Tomas sabia que era verdade mas que, sob essa verdade, se escondia uma razão que explicava melhor a sua vontade de deixar Praga: é que, até aí, ela não fora feliz.
Vivera os dias mais belos da sua vida quando andara a fotografar soldados russos pelas ruas de Praga e se expusera a todos os perigos. Fora o único período em que a telenovela dos seus sonhos se interrompera e em que tinha tido noites serenas. Montados nos seus tanques, os russos tinham-lhe trazido a harmonia. Agora, que a festa acabara, voltava a ter medo das suas noites e queria fugir antes que regressassem. Descobrira que havia circunstâncias em que podia sentir-se forte e satisfeita e era na esperança de tornar a encontrá-las que queria ir-se embora para o estrangeiro.
Milan Kundera
2 comentários:
Tenho uma atração pelo o que tenho medo, o que me pica na lingua, o escuro, o que me faz acordar cedo, a descompostura.
A (re)acção.
Esta voz é duma doçura embriagante. Revolução.
A música dali ao lado, do repeat mode, revoluciona-me os sentidos.
Enviar um comentário