26 de outubro de 2008
Creature Fear
é o teu olhar e o que imagino dele, é solidão e arrependimento,
não são bibliotecas a arder de versos contados porque isso são
bibliotecas a arder de versos contados e não é o poema, não é a
raiz de uma palavra que julgamos conhecer porque só podemos
conhecer o que possuímos e não possuímos nada, não é um
torrão de terra a cantar hinos e a estender muralhas entre
os versos e o mundo, o poema não é a palavra poema
porque a palavra poema é uma palavra, o poema é a
carne salgada por dentro, é um olhar perdido na noite sobre
os telhados na hora em que todos dormem, é a última
lembrança de um afogado, é um pesadelo, uma angústia, esperança.
o poema não tem estrófes, tem corpo, o poema não tem versos,
tem sangue, o poema não se escreve com letras, escreve-se
com grãos de areia e beijos, pétalas e momentos, gritos e
incertezas, a letra p não é a primeira letra da palavra poema,
a palavra poema existe para não ser escrita como eu existo
para não ser escrito, para não ser entendido, nem sequer por
mim próprio, ainda que o meu sentido esteja em todos os lugares
onde sou, o poema sou eu, as minhas mãos nos teus cabelos,
o poema é o meu rosto, que não vejo, e que existe porque me
olhas, o poema é o teu rosto, eu, eu não sei escrever a
palavra poema, eu, eu só sei escrever o seu sentido.
José Luís Peixoto
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2 comentários:
passo a anunciar que a música que acompanhava este poema do josé luís peixoto, deixou de se ouvir e a caixinha de comandos deixou de se ver!
um bon iver que desconhecia, numa versão absolutamente fantástica!
uma amiga minha tem um hábito que me deixa siderado: coloca um "tubanso" a rolar, de dança ou outra coisa qualquer, e simultaneamente põe uma música diferente a tocar... o que é engraçado é que aquilo bate quase sempre certo!
foi a sensação que tive, quando ainda se conseguia ouvir a música... batia certo!
obrigada amélinha.
logo trato disso.
bate, bate.
:)
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