1 de janeiro de 2012

Avó



Avó, sabes, quando estavas em África a cuidar dos teus outros netos e da tua outra filha, era à tua irmã que chamava avó? Não era de propósito, mas escapava-me sempre. Quando me pedia para ir buscar os tomates para a salada, - Sim avó. Ou quando lhe perguntava se o esquentador estava ligado para tomar banho. Tentava sempre corrigir, Tia, mas os seus olhos brilhavam, os olhos da tua irmã que nunca teve filhos. Eram olhos pequenos e muito vivos.
Avó, às vezes a tua irmã irritava-me, a sua mão tremia e não conseguia fazer as tarefas diárias, corriqueiras, irritava-me porque eu era muito jovem, não compreendia a vida. Para todos os que são jovens, as fraquezas são inadmissíveis. Para o fim, já não lhe reconhecia os olhos e desviava o olhar. Olhos pequenos, perdidos.
Avó, tenho saudades das tuas mãos. São tão bonitas, dizia-te eu repetidamente, são tão velhas e com manchas, respondias.
Os dedos finos, as unhas perfeitas, sobre teu colo, tão lindas as tuas mãos.
Avó, tu não tremias a mão, mas não estavas. Chamava avó à tua irmã.

As tuas mãos, avó.



2 comentários:

L disse...

Já te disse e repito, podias (e devias na minha humilde opinião) escrever mais.
Coisas tuas.

rosa disse...

Obrigada Luís, mas geralmente, coisas minhas, só a saca-rolhas.

:)