Nunca a alheia vontade, inda que grata,
Cumpras por própria. Manda no que fazes,
Nem de ti mesmo servo.
Ninguém te dá quem és. Nada te mude.
Teu íntimo destino involuntário
Cumpre alto. Sê teu filho.
Estás só. Ninguém o sabe.
Estás só.
Ninguém o sabe.
Cala e finge.
Mas finge sem fingimento.
Nada 'speres que em ti já não exista,
Cada um consigo é triste.
Tens sol se há sol, ramos se ramos buscas,
Sorte se a sorte é dada
OS OMBROS SUPORTAM O MUNDO. Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus. Tempo de absoluta depuração. Tempo em que não se diz mais: meu amor. Porque o amor resultou inútil. E os olhos não choram. E as mãos tecem apenas o rude trabalho. E o coração está seco.
Em vão mulheres batem à porta, não abrirás. Ficaste sozinho, a luz apagou-se, mas na sombra teus olhos resplandecem enormes. És todo certeza, já não sabes sofrer. E nada esperas de teus amigos.
Pouco importa venha a velhice, que é a velhice? Teu ombros suportam o mundo e ele não pesa mais que a mão de uma criança. As guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifícios provam apenas que a vida prossegue e nem todos se libertaram ainda. Alguns, achando bárbaro o espetáculo, prefeririam (os delicados) morrer. Chegou um tempo em que não adianta morrer. Chegou um tempo em que a vida é uma ordem. A vida apenas, sem mistificação.
Carlos Drummond de Andrade (1902-1987) In "Antologia Poética"
(' By carving into the paper in a particular way, one can feel the power and the magic and the luck. The face is a mirror of the soul - for better or worse. Portraiture is my way of encapsulating the ongoing museum of human experience, to show who we really are, body and soul..')
It's midnight in Manhattan, this is no time to get cute, it's a mad dog's
promenade,
So walk tall, or baby don't walk at all.
.~.
Tens 3 segundos para escolher a tua música preferida.
Diz!
1, 2, 3.
- New York City Serenade.
De quem é?
- Do Bruce Springsteen.
Agora engole este comprimido.
- Hã?
Toma, engole.
De hoje em diante até ao final dos teus dias esta música vai-te acompanhar, será a banda sonora da tua vida... Vais ouvi-la todos os dias, de manhã ou de noite. Nos cafés, no cinema, na praia, em casa , quando tomas banho, ou quando te deitas.
Para sempre, vais memoriza-la, identificar cada nota, tempo, instrumento.
-Porquê? Para quê?
Barack Obama, Prémio Nobel da Paz, assinou há meses uma ordem que autoriza operações secretas da CIA e de outras agências para apoiar os rebeldes sírios na luta contra o regime de Bashar al Assad...
Informaram as agências noticiosas.
No dia a seguir, as mesmas agências informam-nos que o Kofi Annan, outro Prémio Nobel da Paz, demitiu-se das funções de emissário da ONU e da Liga Árabe para a Síria...
So What...? Qual é a novidade? Não só escorregamos cada vez mais fundo num sistema económico caduco e bolorento, como os nossos "heróis" dão provas diariamente da sua nobreza de carácter.
Já tinha lido a notícia na internet que ele tinha morrido, depois, no carro ouvi uma entrevista que tinha dado há algum tempo na Radar, no "Fala com ela". Um sujeito acessível, com sentido de humor, que achava o disco dos Beatles fenomenal, senão me escapa a expressão.
De qualquer forma, o que realmente me deixou a pensar, foi a velha história de deixar para amanhã. Claro que já tinha ouvido falar dele, apesar de inicialmente, pensasse que fosse um fulano estrangeiro, graças ao peculiar nome, de sua graça, aos poucos fui-me apercebendo que era português, e, muito bom, por sinal. Ouvi alguns excertos, mas sempre adiei, um dia desses oiço um álbum completo, com calma, para apreciar bem, ele assim o merece, recomendaram-me, dizia a mim própria.
Prioridades, e fui adiando.
Também não tenho vida para ouvir música o dia todo, aliás, hoje em dia não tenho muito tempo para ouvir música, penso que se reflecte. Em mim.
Adiei, adiei e hoje ele morreu, morte estúpida e prematura, como é premissa dos grandes.
Eu sem nunca o ter ouvido, ouvir com letra grande, demoradamente. Gulosamente.
Ele escolheu" Blackbird" dos Beatles, no "Fala com ela".
Venho de ver a sua exposição. De início, choca a distância entre dois temas: a mulher ociosa e a mulher que trabalha. Custa a compreender como uma mesma sensibilidade pôde sentir a beleza serena e cuidada da mulher que vive para si para os seus vestidos, o seu “ménage”, o seu aspecto e a beleza do vigor e do esforço da mulher que luta pela vida e pelo pão, e que, por tal, se verga sob insuportáveis fardos.
Esse contraste tenho-o como a maior lição talvez dada involuntariamente a tirar da exposição dos seus trabalhos.
Mas se da parte do artista não houvesse apenas vibração ante o "espectáculo" do trabalho; se houvesse também uma compreensão do que remediavelmente doloroso tem esse trabalho; então haveria que exigir mais.
Mais que os bustos ajoujados pelo esforço. Mais que as mãos crispadas pelo desespero. Mais que as feições sombrias e trágicas. Mais que os braços enrodilhados sobre o tronco, a exprimirem retraimento forçado de aspirações. Mais que os passos cansados. Haveria que exigir do artista uma compreensão paralela da beleza serena das elegantes burguesas, do que essa beleza deve a esses outros corpos deformados, do que essa serenidade deve a essas outras almas inquietas e angustiadas. Das “burguesinhas” haveria que traduzir o egoísmo, a vaidade, o vazio de sentimentos e -acima de tudo o seu desprendimento e desinteresse por aqueles a cujo esforço devem tudo com que se adornam e pintam, tudo o que comem e bebem. E haveria ainda que ridicularizar. Não quero dizer que se deformasse a realidade. O que é lamentável não é o facto de o artista não traduzir assim o mundo. Porque se assim o não vê, assim o não deve traduzir (exige-o a sinceridade, a base de toda arte séria). O que é lamentável é o facto de o artista assim o não ver, assim o não sentir. Porque, caro doutor, são dois mundos sim, mas que se interpenetram e explicam mutuamente.
Por isso, tenho como parte de mais interesse na exposição a série de quadros de mulheres no trabalho. Ao contrário do que sucede com muitos pintores "modernos" não há um embelezamento artificial da mulher trabalhadora. Ela nas feições contraídas, e nas atitudes desalentadas ou desesperadas, e na tragédia dos olhos que procuram resistir à sombra e à sonolência da fadiga, se adivinha o descontentamento e a vontade de libertação - mal definidos ainda, talvez excessivamente instintivos, num passo para o levantamento e para revolta.
A mulher trabalhadora aparece mergulhada nas trevas poirentas das oficinas, onde raras manchas de luz lembram que no nosso país o sol brilha. Ou então, os seus pés descalços e inchados chapinham dolorosamente na lama. As roupas são ásperas, sujas, suadas e bafientas. As cabeças abaixam-se sob o peso do fardo. Porém não é o desalento que as atira irresistivelmente para baixo. As cabeças não pendem. Vergam sim mas retesadas e enérgicas; suportando, mas reagindo. Essa sua série de trabalhos marca uma posição nova na nossa pintura moderna. Constitui uma primeira interpretação vigorosa, realista e revolucionária do mundo do trabalho.
Sem dúvida, eu não tenho a pretensão de dizer-lhe coisas novas, nem de lhe dar conselhos. Mas, vendo a sua exposição, senti-me no dever de encorajar o artista, de o incitar a ir mais longe, mesmo que a coragem lhe não falte e seja já seu propósito assente ir ainda mais longe. Mas ir mais longe com determinada direcção. E, na demarcação dessa direcção, vejo com desgosto muitos jovens progressistas deixarem agradar-se mais pelas "notas de Paris", que pelas múltiplas «mulheres no trabalho».
Álvaro Cunhal
Mais: Gostaria de ter um quadro seu, mas não posso comprar. Isto, de certa forma, é uma afirmação brusca e inesperada. Mas também é franca e sincera.
A young travelling woman and a older educated, solitary man close a deal: food in exchange of work. But there is one condition: no personal contact, no questions. Who will be the first one to break the deal?
Serotonin or 5-hydroxytryptamine (5-HT) is a monoamine neurotransmitter. Biochemically derived from tryptophan, serotonin is primarily found in the gastrointestinal (GI) tract, platelets, and in the central nervous system (CNS) of animals including humans. It is popularly thought to be a contributor to feelings of well-being and happiness.
Ergo-me de ti no zimbório
de folhas na penedia do castelo medieval
de limos na umidade da praia
de cristais entre os rochedos do Cabo Horn
Caminho de gelo na floresta
de sôfrego na vastidão do deserto
de louco na brancura do hospício
Eu abismo, eu cratera
inclinei-me e vi um espetáculo caprichoso: uma unha branca
uma unha branca a viver assim despreocupada
OGIVA-BORBOLETA
Arco-de-Cor caldo muito triste
Casulo de quem ninguém falou
Teia-de-Aranha exposta à loucura e ao tempo
Andorinha-Azul de chapéu mole e baratas na cama
VENTOINHA.
Avó, sabes, quando estavas em África a cuidar dos teus outros netos e da tua outra filha, era à tua irmã que chamava avó? Não era de propósito, mas escapava-me sempre. Quando me pedia para ir buscar os tomates para a salada, - Sim avó. Ou quando lhe perguntava se o esquentador estava ligado para tomar banho. Tentava sempre corrigir, Tia, mas os seus olhos brilhavam, os olhos da tua irmã que nunca teve filhos. Eram olhos pequenos e muito vivos.
Avó, às vezes a tua irmã irritava-me, a sua mão tremia e não conseguia fazer as tarefas diárias, corriqueiras, irritava-me porque eu era muito jovem, não compreendia a vida. Para todos os que são jovens, as fraquezas são inadmissíveis. Para o fim, já não lhe reconhecia os olhos e desviava o olhar. Olhos pequenos, perdidos.
Avó, tenho saudades das tuas mãos. São tão bonitas, dizia-te eu repetidamente, são tão velhas e com manchas, respondias.
Os dedos finos, as unhas perfeitas, sobre teu colo, tão lindas as tuas mãos.
Avó, tu não tremias a mão, mas não estavas. Chamava avó à tua irmã.